G-Sync e FreeSync Explicados: Como a sincronização adaptativa acaba com o screen tearing

Se você já jogou em um PC, provavelmente já sentiu a frustração: você está em um momento crucial do jogo, vira a câmera rapidamente e a imagem “rasga” ao meio, com a parte de cima e a de baixo dessincronizadas.

Esse fenômeno irritante tem um nome: Screen Tearing.

Por anos, a única solução era um recurso chamado V-Sync, que resolvia o tearing mas criava outros problemas, como stuttering (gagueira) e um atraso perceptível nos comandos (input lag).

Felizmente, essa era sombria acabou com a chegada do NVIDIA G-Sync e do AMD FreeSync. Mas o que exatamente são essas tecnologias? Como elas funcionam? E qual delas você deve escolher?

Como especialistas em tecnologia de monitores, estamos aqui para dissecar tudo o que você precisa saber sobre a sincronização adaptativa.

O Problema Original: Por Que o Screen Tearing Acontece?

Para entender a solução, você precisa entender a fundo o problema. O screen tearing é o resultado de um conflito de comunicação entre sua placa de vídeo (GPU) e seu monitor.

  • Seu Monitor (Ritmo Fixo): Um monitor de 144Hz, por exemplo, tem um trabalho simples: ele atualiza a imagem na tela 144 vezes por segundo, em um ritmo perfeitamente constante.
  • Sua GPU (Ritmo Variável): Sua placa de vídeo, por outro lado, trabalha em um ritmo caótico. Ela renderiza quadros (frames) o mais rápido que pode. Em uma cena simples, ela pode gerar 200 quadros por segundo (FPS); em uma explosão complexa, pode cair para 70 FPS.

O tearing acontece quando o monitor, em seu ciclo fixo, tenta exibir uma nova imagem no meio do caminho da GPU enviar um quadro. O monitor acaba mostrando metade do Quadro A (antigo) e metade do Quadro B (novo) ao mesmo tempo.

A Solução Antiga e Falha: V-Sync

A primeira solução foi o V-Sync (Sincronização Vertical). O V-Sync forçava a GPU a “esperar” pelo monitor. Ela só podia enviar um novo quadro quando o monitor estivesse pronto para um novo ciclo de atualização.

Isso resolvia o tearing, mas criava dois problemas piores:

  1. Stuttering (Gagueira): Se sua GPU caísse para 59 FPS em um monitor de 60Hz, o V-Sync a forçaria a esperar um ciclo inteiro, efetivamente cortando sua taxa de quadros pela metade (para 30 FPS) por um instante. Isso causava “engasgos” visíveis.
  2. Input Lag (Atraso de Entrada): Essa espera forçada criava um atraso entre o momento em que você mexe o mouse e a ação que aparece na tela. Para jogos competitivos, isso é inaceitável.

A Revolução: O Que é Sincronização Adaptativa?

G-Sync (da NVIDIA) e FreeSync (da AMD) são tecnologias de Sincronização Adaptativa (ou Adaptive Sync). Elas invertem a lógica do V-Sync de forma brilhante.

Em vez de forçar a GPU (variável) a esperar pelo monitor (fixo), a sincronização adaptativa força o monitor (agora variável) a esperar pela GPU.

Com G-Sync ou FreeSync ativados, o monitor abandona seu ritmo fixo. Se a sua GPU renderiza um quadro a 87 FPS, seu monitor se ajusta instantaneamente para atualizar a 87Hz. Se a GPU cair para 61 FPS, o monitor cai para 61Hz.

O resultado? A taxa de atualização do monitor e a taxa de quadros da GPU estão em perfeita harmonia.

  • Sem Screen Tearing: Cada quadro é exibido por completo.
  • Sem Stuttering: Não há quedas abruptas pela metade.
  • Input Lag Mínimo: A GPU envia o quadro assim que ele está pronto.

A experiência é perfeitamente fluida. Sites de testes práticos, como o Blurbusters (uma autoridade em testes de movimento em monitores), demonstraram há anos que a diferença visual e de responsividade é transformadora.

NVIDIA G-Sync: A Abordagem Proprietária

Lançado primeiro pela NVIDIA, o G-Sync foi a solução original e é conhecido por seu rigoroso controle de qualidade.

Originalmente, para um monitor ter G-Sync, ele precisava incluir um módulo de hardware proprietário da NVIDIA. Este chip dedicado cuidava de toda a comunicação com a GPU, garantindo uma performance impecável.

Os Níveis do G-Sync:

  1. G-Sync Ultimate: O nível mais alto. Exige o módulo de hardware mais recente, especificações de ponta (como HDR 1000) e testes rigorosos. É o “selo de ouro”, mas tem um custo elevado.
  2. G-Sync: O padrão que usa o módulo de hardware dedicado. Garante uma faixa de atualização completa (de 1Hz até o máximo do monitor) e performance validada.
  3. G-Sync Compatible: Este é o nível mais comum hoje. São monitores FreeSync que a NVIDIA testou e certificou que funcionam perfeitamente com suas placas de vídeo, sem a necessidade do chip proprietário.

Vantagem: O controle de qualidade da NVIDIA é sua maior força. Se um monitor diz “G-Sync” ou “G-Sync Ultimate”, você tem a garantia absoluta de uma experiência premium.

Desvantagem: O custo. O módulo de hardware e a certificação adicionam um valor significativo ao preço final do monitor.

AMD FreeSync: O Padrão Aberto e Acessível

A resposta da AMD foi o FreeSync. Em vez de criar um chip proprietário, a AMD usou uma tecnologia de padrão aberto já existente no DisplayPort: o VESA Adaptive-Sync.

Isso significa que qualquer fabricante de monitor pode implementar o FreeSync sem pagar taxas de licenciamento para a AMD.

Os Níveis do FreeSync:

Como o padrão é aberto, a AMD criou níveis de certificação para ajudar os consumidores a saber o que estão comprando:

  1. FreeSync: O nível básico. Apenas garante a jogabilidade sem tearing, mas não tem garantia sobre a performance em taxas de quadros muito baixas.
  2. FreeSync Premium: Este é o nível que você deve procurar. Ele exige LFC (veja abaixo) e uma taxa de atualização de pelo menos 120Hz em resolução Full HD.
  3. FreeSync Premium Pro: Inclui tudo do Premium, mas adiciona requisitos rigorosos para performance de cores e baixo atraso em HDR (High Dynamic Range).

Vantagem: Custo e variedade. Por ser um padrão aberto, existem centenas de monitores FreeSync no mercado, tornando-os muito mais acessíveis.

Desvantagem: Variabilidade. Um monitor “FreeSync” básico pode ter uma performance inferior a outro. É por isso que recomendamos focar apenas em monitores com selo FreeSync Premium.

O Recurso Secreto que Importa: LFC (Low Framerate Compensation)

Este é o tópico que separa os leigos dos especialistas. A sincronização adaptativa só funciona dentro de uma “janela” de operação (ex: 48Hz a 144Hz).

Mas o que acontece se seu jogo cair para 40 FPS, abaixo da janela de 48Hz?

É aí que entra o LFC (Low Framerate Compensation). Se o FPS cai para 40, o LFC exibe o mesmo quadro duas vezes, “enganando” o monitor para que ele opere a 80Hz (40 x 2), mantendo-se dentro da janela de sincronização.

Por que isso é crucial: Sem LFC, você voltaria a ter stuttering e tearing em quedas de FPS. O LFC garante uma experiência suave mesmo quando seu PC está sofrendo.

Regra de Ouro: Todos os monitores G-Sync (qualquer nível) e FreeSync Premium (qualquer nível) são obrigados a ter LFC. Monitores “FreeSync” básicos (sem o “Premium”) podem não ter.

G-Sync vs. FreeSync: Qual Vencer? (A Resposta de Hoje)

Há alguns anos, esta era uma batalha tribal: GPU NVIDIA exigia G-Sync, GPU AMD exigia FreeSync.

Hoje, o cenário é muito melhor:

  • A NVIDIA “perdeu” a guerra e “ganhou” o mercado: Com o programa G-Sync Compatible, a NVIDIA abriu suas placas (série 10 em diante) para funcionar com monitores FreeSync.
  • O Ponto Ideal (Sweet Spot): O melhor custo-benefício hoje é quase sempre um monitor FreeSync Premium que também é certificado como G-Sync Compatible. Você obtém os recursos premium (120Hz+, LFC) por um preço de FreeSync, com a garantia de que funcionará perfeitamente em placas NVIDIA ou AMD.

De acordo com testes extensivos de publicações como o RTINGS.com, que analisa centenas de monitores, a implementação do “G-Sync Compatible” em monitores FreeSync Premium de qualidade é indistinguível da performance de um G-Sync nativo na maioria dos cenários de uso.

Conclusão: Não Compre um Monitor Gamer Sem Isso

Seja G-Sync ou FreeSync, a sincronização adaptativa não é mais um “luxo”, é uma tecnologia essencial para qualquer um que leve jogos a sério. Ela resolve um problema fundamental que assola os PCs há décadas, resultando em uma jogabilidade com fluidez máxima.

Ao procurar seu próximo monitor, não se contente com menos. Priorize modelos que ofereçam, no mínimo, a certificação FreeSync Premium.

Agora que você é um especialista em como a sincronização adaptativa funciona, você está pronto para encontrar o modelo ideal. Se você quiser ver quais monitores combinam essa tecnologia com os melhores painéis, cores e tempos de resposta, confira nosso guia completo e atualizado.

Confira nossa análise detalhada dos Melhores Monitores Gamers

Este artigo baseia-se em dados técnicos e testes práticos de fontes de autoridade na indústria de hardware e monitores:

Blurbusters.com: A principal fonte de pesquisa sobre ciência de movimento e exibição de monitores, incluindo testes de G-Sync e FreeSync.

RTINGS.com: Conhecidos por seus testes de laboratório detalhados e padronizados de monitores e TVs.

VESA (Video Electronics Standards Association): A organização que define os padrões de exibição, incluindo o Adaptive-Sync, a tecnologia por trás do FreeSync.